quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O BAIANO NÃO É UM PREGUIÇOSO

DOUTORADO NA PUC - TEMA: 'PREGUIÇA BAIANA'

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'Preguiça baiana' é faceta do racismo. A famosa 'malemolência' ou preguiça
baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de
doutorado defendida na PUC. A pesquisa que resultou nessa tese durou
quatro anos.

A tese, defendida no início de setembro pela professora de
antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, sustenta que o baiano é
muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil
e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de 'festa eterna'.

Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais
trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal,
as festas são uma oportunidade de trabalho. 'Quem se diverte é o turista',
diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e
se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas,
que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os
negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia.

O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma
coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista.
A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da
elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos,
devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do
serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão??? ?).

Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das
migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram
baianos. Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para
denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do
que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo
fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de 'proteção' dos seus
empregos.

Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi,
Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da
imagem. 'Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas
cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma
especiaria que a Bahia oferece para o Brasil', diz Elisete. Até Caetano se
contradiz quando vende uma imagem e diz: 'A fama não corresponde à
realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em
qualquer lugar do mundo'.

Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria
do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer
permanente 'Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do
país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades.'

O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo
industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que,
em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América latina.

Para tirar as conclusões acerca da origem do termo 'preguiça baiana', a
antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o
comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o
calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O
feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos
de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que
é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia).

Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo
Petroquímico da
Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo
que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada).

Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois
prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio
(e foi a única do Brasil).

Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados
'desocupados' (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam
por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de
bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando
levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13°
lugar.

Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor
lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a
fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado
ainda não saturado. O investimento industrial e turístico tem atraído
muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de
Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro
(bancos,financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de
advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro
setor).

Muito pelo contrário, nós baianos e nordestinos somos dinâmicos e criativos.
A diferença consiste na alegria de viver, e por isso, sempre
encontramos animação para sair, depois do expediente ou da aula, para nos
divertir com os amigos. Isso é o nosso modo natural de levar a vida

terça-feira, 28 de setembro de 2010

DELÍRIOS DE UM MANDARIM

Eu quero continuar na política

Esta sanha que o destino me relegou

Nosso país é tão grande e tão rico

Pra governá-lo o povo me designou

Sou comandante, cabra macho danado

Com esta minha cara barbuda e de pau

Conheço a gente deste país massacrado

Mas pra governar, sei que estou bem legal

Sou um molusco, assim...meio asno

Nesse mundo por onde circulo

Percebo até que sou bem cortejado

Por milionários, pobres, fracos e duros

Perdi um mínimo em certo desleixo

Mas para mim isso até que deu certo

Tive pobrema pra chegar onde estou

Quem me ajudou foi um bando esperto

Tenho o poder designado por tantos

Que a mim, até que veneram bastante

A muitos tenho certeza que engano

Pra outros, isso não é importante

Quero esse povo esmola comendo

Sempre pensando que isso é trabaiá

Mas uns tempos e eu saio correndo

Esses tolinhos ainda vão me apoiá

Já trabaieie e fui um cabra astuto

Num certo meio do faz-de-conta

Hoje sou tratado como um mandarim

Pago pra ver quem é que me desbanca

Na transposição vou tentar me arrumar

Tendo apoio de uma cambada caduca

Espero que a súcia venha me apoiar

Pra não acabar como lelé da cuca


Fui capacho de um cabra louco no norte

Muito maluco como são outros no sul

Com eles sempre me ajeito com sorte

Enquanto esse povo vai tomando caju

Quero avisar a todos os puxa-sacos

Que eu não sou esse tipo bonzinho

Só estou tentando arrumar minha turma

Depois caio fora porque sou espertinho


Josue Ramiro Ramalho
Diversidade Poética